Por Leonardo Laruccia
27/08/2020
A mãe, que já havia se acostumado com a quietude das tardes de domingo pelo hiato de jogos na pandemia, esperava ansiosamente gritos de alegria vindos da sala. Faltava menos de 1 minuto de jogo quando passou brevemente pelo recinto em direção ao seu quarto. Apesar de não ser fã de futebol, sabia que aquela final representava algo importante pro marido e para os filhos.
Ao invés de gritos e palavrões em comemoração, ouviu os também gritos e palavrões, mas de repulsa e se perguntou bem baixinho: “Mas não faltava 1 minuto?
— Cazzo, Gomez! – disse o pai
— Ah, vai se *! – bradejou o filho do meio
— Esse time tem pacto! – gritou o mais novo
— De novo? – limitou-se o mais velho
No mesmo quarto em que estava, a mãe ligou a televisão no mudo – ainda atenta aos acontecimentos na sala – e começou a assistir aos penâltis.
— Vai, amarelinho – torcia para o goleiro, sem saber sequer o nome dele
Na sala
— BOA, WEVERTON! – em uníssono ouviu da sala
Pouco tempo depois, ela que aprendeu naquele momento o que significava os “x” e as “bolinhas” no placar que aparecia na televisão, ao ouvir que se o garoto fizesse aquele gol, o Palmeiras seria campeão, disse
— Vai, meu filho – o menino foi. E fez. O Palmeiras era campeão a partir daquele momento – Aahhhh! – sentiu a pressão baixar.
Na sala
— É campeão, po***! – disse o pai
— P* q p****! – esbravejou o do meio
— Chupa, gambazada! – gritou o mais novo
— Tá tudo bem, mãe? – perguntou o mais velho ao ver a mãe pálida
— Acho que a minha pressão baixou – disse a mãe – Mas pode pedir as pizzas que hoje é dia de comer, não de passar mal!
Como uma tradicional família italiana palmeirense, a comemoração de título finalmente veio, regada a pizza, emoções, pressão baixa e, principalmente, um punhado de ânimo em tempos bastante difíceis.
Parabéns, Palmeiras! Há 106 anos deixando quem não é palmeirense sem entender o que é ser palmeirense.
Leonardo Laruccia, palmeirense da década de 90, publicitário, sócio da WL Agência Digital e escritor nos intervalos.