Por Catedral de Luz
30/07/2021

(Foto: Reprodução)

Às vezes o instinto se sobressai ao racionalismo habitual do homem contemporâneo e o medievalismo salta aos olhos de quem testemunha os fatos.

Somos sensíveis a tudo que percebemos ao redor e, caso você não se recorde, neste final de semana teremos um “Choque Rei” com toques de crueldade que permitem lembrar-nos da “Primavera de 42” e dos traumas sociológicos construídos preconceituosamente por uma aristocracia seiscentista que de forma oportunista tentou vilipendiar o nosso patrimônio, por intermédio de um governo de cunho totalitário.

Como diz o título deste texto: “Choque Rei não permite lucidez”. Desde “1970”, quando comecei a acompanhar futebol, tal clássico tira o meu equilíbrio emocional e me faz parecer um soldado romano em plena campanha.

Diriam alguns alviverdes tomados por genuína dose de bom senso que isto é fruto de teoria conspiratória. Contudo, o gol anotado de forma irregular pelo inimigo – não consigo chamá-los de adversários –, no primeiro turno Estadual (0X1, julho/1970) deu a luz aos sentimentos deste colunista, embora a revanche tenha sido realidade no turno posterior (1X0, agosto/ 1970).

Porém, nada se comparou ao Estadual de “1971” quando um tento legítimo de “Leivinha” foi anulado pelo afetado árbitro “Armando Marques” (0X1, junho/1971) que assumiu o erro cometido, anos após. Entretanto, o leite fora derramado e o tempo não retroage.

Presidente palmeirense à época, “Pascoal Giuliano” aprendeu rápido a arte de não oferecer “handicap” ao rival e recusou-se a fazer turno e returno em “1972”, no estádio do “Morumbi”. Melhor seria jogar no “Estádio Municipal do Pacaembu” e evitar a figura psicologicamente negativa do “Governador Laudo Natel” sentado ao lado dos reservas tricolores, fato que constantemente inibia os árbitros e favorecia claramente o clube do personagem eleito indiretamente pela “ditadura”.

Assim caminhava a humanidade e embora tais circunstâncias tóxicas ao “fair play” esportivo, a “S.E.P.” vivia uma década eficiente e normalmente conquistava campeonatos com absoluta competência, porém interrompida pelos erros administrativos provocados pelos mandatários palestrinos que presidiram nossos destinos nos anos “80”.

Coube aos anos “90” o retorno alviverde em grande estilo, via “Parmalat”, cogestora que fez a diferença frente aos rivais tradicionais que por despeito proclamavam à “colônia fabril” a venda patrimonial de seu clube tornando-se um braço de “indústria de laticínos”.

Mas a política quando acima dos homens empobrece qualquer planejamento e assim foi com a nossa primeira década do “Século XXI”. O “Choque Rei” vivia nas ondas de um passado longínquo e somente possível pelo viés de uma austera reforma de base, principalmente de mentalidade, coisa que as finanças trouxeram à baila na segunda década – “2015”, mais precisamente.

Um ano antes, por intermédio do capítulo “Alan Kardec”, a frase divisora de águas, quando o nefasto presidente dos inimigos históricos propôs interpretar-nos como em “franco processo de apequenamento”. Coisa de quem mal enxerga o próprio umbigo e regurgita a empáfia dos bravateiros.

De lá para cá deixamos de ser meros coadjuvantes de estádios outros que não o nosso.

Fortalecemo-nos, embora a contínua convivência com a “vendeta política”, talvez a única capaz de levar a termo o fracasso de um clube fadado ao sucesso absoluto.

Francamente decepcionante seria se lembrássemos do “Palestra Itália” como um palco emissor de gases, em vestiário visitante de um clássico “Choque Rei”.

Portanto, alto lá quando pensar no jogo deste final de semana e achá-lo apenas um clássico entre forças que se respeitam.

História é argumento de quem tem e pode contar aos seus.

O escritor e colunista Catedral de Luz nasceu na turbulenta década de 60 e adquiriu valores entre as décadas de 70 e 80 que muito marcaram sua personalidade, tais como Palmeiras, Beatles, Letras, Espiritismo e História… Amizades… Esposa e Filha.
Os anos 90 ensinaram-lhe os atalhos, restando ao novo século a retomada da lira e poesia perdidas.