Por Catedral de Luz
23/12/2020

(Foto: Palmeiras)

Provavelmente você leia o texto epigrafado nesta importante quarta-feira, onde o destino da coletividade alviverde começará a ser decidido no lendário “Allianz Parque”.

Entretanto, a data de ontem evocava bem mais que o aniversário do grande “Abel Ferreira”, técnico da “S.E.P.”.

Voltamos no tempo e o espaço em nossos corações pertence à temporada de “1974”, final do “Estadual”, “Derby”… Enfim, mais um capítulo da série acadêmica “Nascemos Para Vencer”.

Pois é, “Abel Ferreira” não pertencia a este mundo e o Palestra de seus gritos no vestiário já avançava.

Enfrentávamos aos mais variados obstáculos. O time adversário, competitivo; os mais de “100.000” torcedores antagonistas que de forma brilhante resolveram incentivar cada ataque e varrer da memória os vinte anos de inércia conquistadora; e a imprensa carregada de aforismos, sempre alimentando que os dias de fila estavam contados.

Para mim e para inúmeros palmeirenses que eu não tinha a menor ideia de suas existências era apenas mais uma disputa. Meus doze anos de idade estavam confiantes, pois eu torcia para a incontestável “II Academia”.

Pouco a pouco, a cada quarto de hora transcorrido, o time alviverde incorporava uma camada própria dos conquistadores e aquele adversário aparentemente invencível foi acusando golpes desferidos por um elenco sóbrio e que personalizava aquilo que queria com profunda naturalidade.

Permitam-me perder-me neste parágrafo com as articulações do “Divino Ademir”. Hipnótico quanto ao combate inimigo, a cada domínio de bola parecia que o mundo congelava a imagem e ao comando albino retornava favorável à “S.E.P.”

Mas o jogo foi muito mais que noventa minutos. O clássico viveu momentos que a História registrará em suas páginas, definitivamente.

Bola alçada à área inimiga. “Leivinha” ganha de cabeça e serve “Ronaldo” que por intermédio de um arremate impecável põe fim ao sonho “preto e branco”.

Mas tudo é nada se interrompermos por aqui. “Dudu” brilharia com efeito, pois é assim que nascem os grandes heróis.

“Dudu” foi coluna mestra ao formar barreira defensiva, em cobrança de falta do “Garoto do Parque”, “Rivelino”. Desacordado e fora das quatro linhas, o “camisa cinco” continuava a sentir o jogo por instinto e não se dava por vencido.

Cambaleante, “Dudu” retornaria ainda mais comprometido, em nova falta a ser batida pelo “camisa dez” inimigo. Corajoso, o velho “Olegário” foi o primeiro palestrino a apresentar-se à barreira. A vitória tinha proprietário.

Vencer nos levou além do resultado final e permitiu a mudança de destinos.

O Morumbi viu e ouviu vários testemunhos derramando sangue por intermédio de interesses comuns. Os nossos, por exemplo, ficaram gravados pela História escrita pelos poetas da “II Academia”.

Por estas e outras é sempre bom lembrar.

Enfim: Feliz Aniversário, “Abel Ferreira”!

O escritor e colunista Catedral de Luz nasceu na turbulenta década de 60 e adquiriu valores entre as décadas de 70 e 80 que muito marcaram sua personalidade, tais como Palmeiras, Beatles, Letras, Espiritismo e História… Amizades… Esposa e Filha.
Os anos 90 ensinaram-lhe os atalhos, restando ao novo século a retomada da lira e poesia perdidas.