Por Leonardo Laruccia
03/09/2020
Quinta-feira, 6h15.
Pouco mais cedo do que o costume, mas ainda assim antes do expediente, Marcos entra na padaria, se aproxima no balcão e, antes de sentar, já é curiosamente abordado pelo Josías, atendente:
— Bom dia, seu Marcos, caiu da cama foi? – perguntou
— Antes fosse, Josías, eu sonhei a noite inteira.
Nesse momento, Marcos respira fundo e pede com a voz amargurada
— Me traz um café sem açúcar, por favor.
— Mas sonhar não é bom, ué? Por que essa desanimação toda? – questionou o atendente sem pensar muito.
— Pois é, ruim é ter que acordar e conviver com a realidade. – disse Marcos
Lembrando do papo no dia anterior, Josias perguntou
— Aquela reunião importante que o senhor havia comentado ontem não foi boa? – perguntou
— Foi ótima, a reunião foi um sucesso. O problema não é no trabalho.
Josías, então, prosseguiu
— Então, sonhou com o quê?
Marcos, logo respondeu
— Foi um sonho daqueles que a gente sabe que não depende da gente, mas gostaríamos muito que dependesse.
— Mas então diz logo o sonho, seu Marcos, vai! – insistiu
— Ah, Josías… Sonhei que o Rony conseguia carregar a bola sem tropeçar nela por mais de 5 metros, que o Bruno Henrique se preocupava mais com o jogo do que com o cabelo, que o Lucas Lima, enfim, descobria que pode-se tocar a bola para frente no futebol, que o Ramires ainda jogava na Europa, que o craque do time não era o Luiz Adriano e que Palmeiras fazia 2 gols e tinha chutado mais de 10 vezes de forma consciente logo nos 30 primeiros minutos de jogo.
Marcos inspirou ar de forma rápida e continuou
— Ah! E o principal: o time tinha padrão de jogo, estava dando liga e que, ao olhar a área técnica, nada se parecia com o que eu vi ontem, antes de deitar. Será que eu fui mal acostumado durante os últimos anos? – perguntou meio que retoricamente
— Ishhhh! – emitiu Josías, antes de abrir a estufa – Tem certas coisas na vida que a gente não controla, mas tira a gente da paz, né, seu Marcos? – continuou – Leva esse pão de queijo e esse copinho com mais café, mas agora com açúcar pra te animar. Presente meu.
— Obrigado! Até amanhã! – agradeceu Marcos
— Bom dia! – Josías finalizou
Leonardo Laruccia, palmeirense da década de 90, publicitário, sócio da WL Agência Digital e escritor nos intervalos.